Loomer é uma banda da nova geração roqueira vinda de Porto Alegre (RS), que aos poucos vem conquistando seu espaço na atual cena independente brasileira através de shows barulhentos e de dois elogiados EPs (Mind drops, de 2009 e Coward soul, de 2010).

Formada por Liege (baixo, voz), Stefano (guitarra, voz), Richard (guitarra) e Guilherme (bateria), a banda – que tocou em São Paulo, Piracicaba e Sorocaba entre 25 e 28 de novembro do ano passado- tem em seu DNA toda a carga noise de grupos essenciais do rock alternativo como Dinosaur Jr., My Bloody Valentine e Jesus and Mary Chain, e entre uma distorção e outra bateu um papo, via e-mail, com o PCP.

A seguir, a entrevista.

PCP – Loomer é o nome de uma das músicas de Loveless, álbum do My Bloody Valentine (e uma das pedras fundamentais do shoegaze). O nome da banda vem daí?

Loomer – Nós não passamos muuuuuito tempo pensando num nome…a gente tinha um show marcado, precisávamos de um, urgente! Aí, fizemos uma baita lista com 156429873 nomes e, no fim, optamos por esse aí. Era pra ser algo como “loomer fish”, ou “loomer-qualquer-coisa”. Mas tipo assim: além de sonoro e curto, “loomer” significa algo “difuso” que é como meio que definimos nosso som – e isso pesou mais na hora de escolher o nome. Claro que sabíamos que Loomer era uma música do MBV, mas isso não foi decisivo para a escolha. Contudo, não deixa de ser uma menção honrosa, com certeza.

PCP – Pergunta básica que não poderia ficar de fora. Quais as influências da banda (musicais, literárias, cinematográficas, alcoólicas, etc)?

Liege: Vou arriscar um Top10, rapidinho: Nirvana, Sonic Youth, Swervedriver, My Bloody Valentine, Superchunk, Jawbox, Hoover, Dinosaur Jr, Mudhoney e Pixies. Tem muito mais, listas são sempre injustas. Mas estes aí eu consigo conectar bem com o que fazemos na Loomer. Nas minhas contribuições, pelo menos. Fora isso, filmes de terror trash, ou clássicos tipo Ferris Bueller Day Off ou Back to The Future, barulhos constantes rápidos tipo motoserra ou motores de caminhão, e Heineken! Meu sonho é ter um patrocínio da Heineken!

Stefano: Acho que a banda respeita bem as influências de cada um, e ela é resultado do que cada um gosta, e no meu caso, em termos musicais sou muito influenciado por Pixies, Sonic Youth, J&MC, Joy Division, Dinosaur Jr, MBV, Sebadoh, e mais mil bandas não necessariamente shoegazers, ou barulhentas, ou melódicas, ou americanas/inglesas/estrangeiras, deste ou daquele ano, mas sei lá, que têm algo de original, ou sincero, ou de personalidade. E acho que isso vale também para livros, cinema e tudo o mais. De autores gosto de alguns livros do Kafka, Dostoiévski, Bukowski, Nietzsche e outras coisas viajantes, filosóficas, pós-apocalípticas, pessimistas, introvertidas, nada exatamente com fórmula definida – ou não, vai saber… E filmes vão por aí também: The Thing (1982), Eraserhead (1977), aliás, David Lynch é interessante; Return of The Living Dead, Evil Dead (em termos gerais, os toscos filmes de terror dos anos 70/80 são legais, mas passou dos anos 90 já ficam suspeitos…); ficção científica como Blade Runner, 2001, Brazil, alguns do Terry Gilliam; 1984, Akira; filmes de faroeste do Sergio Leone como The Good The Bad and The Ugly, Once Upon a Time in The West, A Fistfull of Dollars, vários aliás, complicado listar aqui… E de alcoólico, uma Heineken costuma cair bem, além de chopp, cervejas artesanais, mas também se não forem, tá tudo bem ainda…

Guilherme: Sim, a arte underground, seja na musica, no cinema, na literatura, e o uso de substancias que acrescentem algo ‘viajante’ na história sempre foram bem vindas como influencias. De Velvet Underground a Jim Jarmusch, de Heinekens a THC, existe um universo enorme para se criar.

Richard: Filmes de terror dos 80’s, cena musical alternativa da virada dos 80’s pros 90’s  e cerveja.

Liege: Na real dava pra resumir, né? O Richard disse tudo aí. A gente costuma se reunir pra ver filmes, beber e ouvir música sempre que dá.

PCP – A impressão que se tem aqui em SP é que no Rio Grande do Sul todas as bandas vêm de brechós, vestindo-se como se estivesses nos anos 60 e tocando como se estivessem nos anos 60. Rola uma cena de bandas como a Loomer, que tem essa pegada guitar band e foge do esquema Beatles/Stones/The Who?

Loomer Cabe parafrasear o jornalista e apresentador de um dos únicos programas de TV que difunde a cultura independente do estado (Programa Radar na TVE-RS), Leo Felipe: “Rock gaúcho é um termo mofado”. Sim, ainda existem várias bandas mais “sixties” e que fazem essa linha mais “clássica”. Algumas fazem muito bem feito! É uma questão de gosto. Mas há uma galera noventista saudosa por aqui. Tem uma pá de bandas legais aqui no RS. Nós mesmos temos outras bandas, que tocam vertentes diferentes da Loomer, mas que tambem prezam mais pela guitarrada do que pelo hype. Existem muitas bandas boas, por aqui, muitas! Algumas mais guitar, outras mais influenciadas por outras vertentes do rock: grunge, rockabilly, indie, pós punk, electro rock, progressivo, experimentais…Gente que caracteriza o nosso ‘novo rock gaúcho’ – e são bandas não necessariamente novas, algumas mais guitar, outras nem tanto, mas todas autorais e bem originais: Superguidis, Viana Moog, Megadrivers, Urso, Telecines, Campbell Trio, Gru, Damn Laser Vampires, MESS, Farveste, Red so Deep, Transmission, Seven2Nine, Hangovers, Worldengine, Lautmusik, Parkplatz, MIPV, Bloco, Trend, O Carabala, Monstro Motor, Red Morning Sun, Prozak, Walverdes, Dating Robots, Badhoneys, Trimbou, Empíricos, Twin Cities, Apanhador Só, Monodia, Diablo Fuck Show, Véspera, Chickelets, Ixtlan Noisetrack, Eletric Mind, Li Tibo…Olha, a lista é bem grande! Certo que vamos esquecer um monte de gente, citar é sempre difícil porque não se consegue contemplar todas.Mas, definitivamente, o RS não é isso aí que vocês pensam não!

PCP – Há espaço para shows em Porto Alegre? Como funciona o underground da cidade?

Loomer Espaço sempre há. O que não existe são condições muito adequadas. As poucas casas de show que ainda abrem espaço para o underground aqui em Porto Alegre não têm uma boa estrutura para receber as bandas. Geralmente funciona assim: a banda tem que levar bateria, levar amplificador, levar público até a casa de show à meia noite num dia de semana, e sempre acaba levando no ** em termos financeiros, tocando por porcentagens baixas de bilheteria. E o pior de tudo é que a gente entende muito as casas de show. Público aqui é difícil; a galera prefere ir dançar som ‘mecânico’ do que apreciar as bandas autorais ao vivo. E os bares precisam de uma garantia de que não vão tomar um tufo federal ao abrir oportunidade para uma banda autoral. É brabo…vc tem que pagar funcionários, luz, aluguel e se entender com os vizinhos! É um negócio, né?! De bares que abrem espaço pra bandas underground aqui em Porto Alegre, dá pra destacar o Dr. Jekyll e o Garagem Hermética, que tradicionalmente abrem este espaço há muitos anos e o Entrebar. Há também o Porão do Beco, Verde Club que trazem também atrações maiores, ou bandas de outros estados, mas ainda assim abrem espaço para bandas independentes muitas vezes.

PCP – Vocês são uma banda nascida na era da internet, e que usam a rede a seu favor. Como encaram a equação música X download X direitos autorais?

Liege: Vixe…equação? Matemática nessa banda é com o Stefano (risos). Cara, não há como fugir da internet. E nem tem porquê, na verdade. Vejo a web como uma grande aliada pra divulgar o trabalho da banda. Eu uso muito a internet. Mas tipo, a curto prazo, não é lucrativo (a não ser que você seja a Lady Gaga, mas estamos falando de bandas independentes, right?). Existem projetos ótimos como o download remunerado do Tramavirtual, onde o artista recebe um pouquinho à cada ouvida, o que já dá uma motivada e tal.Mas é uma questão de ideais; quem quer viver de música (o que pra mim é quase uma utopia) odeia isso, encara como desvalorização. Tudo depende do ponto de vista.

Stefano: Olha, eu escuto muita música através de mp3 hoje em dia, assim como antigamente copiava fita cassete dos outros ou alugava CD pra copiar para uma fita, ou comprava discos de vinil usado. Isso porque as bandas que eu gostava nunca estavam com seus discos a venda nas lojas. Se eu dependesse do mercado da música pra escutar o que eu realmente gostava tava lascado. Isso porque talvez eu (junto com outros claro) esteja fora da curva normal dos usuários de música ao menos no Brasil. Mesmo assim, das bandas que gosto, eu tenho muito mais CDs originais e discos de vinil do que muita gente por aí, claro que também muito menos que outros tantos por aí, mas enfim, guardo-os como um troféu por ter conseguido algo de grande valor pra mim, ou seja lá qual for o motivo. Bom, sendo assim, encaro sem muito problema que a música que eu considero interessante não esteja completamente à venda, e sim que deva ser algo disseminável. É claro que, caso haja algum lucro na venda ou utilização da música, acho que o artista deve receber também, e não ser ele o único filantrópico na história toda.

Richard: Sei lá!

Guilherme: Como ferramenta de divulgação é fundamental para a Loomer. Ao mesmo tempo acho que a questão internet banaliza demais o acesso. Há o risco de se tornar superficial. Claro que depende de como usa-la. E acho que a questão do artista nesta historia ainda é polêmica. Ao mesmo tempo que o acesso é fácil e imediato, parece que não mudou muita coisa. A banda continua tendo que vender cds nos shows e investir mais que ter retorno.

PCP – Os dois primeiros EPs da Loomer foram lançados de forma independente. O primeiro álbum cheio também seguirá este caminho? Aliás, quando ele sai do forno?

Loomer A gente começou a pensar no álbum cheio faz uns dois meses, estamos curtindo muito a repercussão do Coward Soul e estamos compondo bastante; já temos algumas boas músicas novas, e estamos curtindo cada vez mais o que fazemos. Quem sabe ano que vem saia a bolacha, que pode ter algumas músicas do 1º e 2º EP remasterizadas, regravadas e mais algumas composições novas, ou tudo novo – ou tudo velho – God only knows! Atualmente fazemos parte do cast da Midsummer Madness (RJ), e contamos com o especialíssimo apoio da Senhor F (DF/RS) e Sinewave (SP) nos nossos lançamentos virtuais. É uma tríade que admiramos muito, e somos muito gratos! Com certeza queremos manter essa aliança para lançamentos futuros. São 3 ótimos e tradicionais selos.

PCP – Vocês vivem de música ou têm algum trabalho paralelo?

Loomer Todos nós temos trabalhos normais. No hay como viver de música. Precisamos pagar as contas pessoais, os ensaios, os equipos, a cerveja, os CDs, etc, etc. É brabo isso daí, tchê.

PCP – Pra fechar, deixem uma mensagem pros nossos leitores.

Liege: Glenn Branca, galera!!! Glenn Branca!!!

Richard: Montem bandas, vão aos shows, valorizem a cultura underground!

Stefano: Vão a shows de seus amigos, valorizem bandas de som próprio, movimentem a cena.

Guilherme: Ouçam Coward Soul, vejam os videos, critiquem, comentem. Fazemos o mesmo com nossos amigos.

Links:

Twitter: @loomerband

Facebook: https://www.facebook.com/loomerband?fref=ts


3 respostas para “PCP Entrevista – Loomer”.

  1. […] álbum tem, entre outros, Loomer, Hierofante Púrpura, Medialunas, Badhoneys, Wallace Costa, e pode-se dizer, a grosso modo, que seu […]

  2. […] Então, entre riffs distorcidos e vocais etéreos, decidi que era a hora de conversar com os rapazes – e a moça, claro – pra saber o que eles pensavam sobre a vida, o universo e tudo mais. Descobri que além de fãs de Dinosaur Jr. e My Bloody Valentine, eles eram (são) divertidos, gostam de cerveja e…enfim, leiam a entrevista e descubram por vocês mesmos. […]

  3. […] Então, entre riffs distorcidos e vocais etéreos, decidi que era a hora de conversar com os rapazes – e a moça, claro – pra saber o que eles pensavam sobre a vida, o universo e tudo mais. Descobri que além de fãs de Dinosaur Jr. e My Bloody Valentine, eles eram (são) divertidos, gostam de cerveja e…enfim, leiam a entrevista e descubram por vocês mesmos. […]

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