Will Wiesenfeld é uma figura. Com olhos claros (quase transparentes) geralmente escondidos atrás de um par de óculos de armação grossa, cara de nerd, costeletas que mais parecem duas taturanas e roupas que mostram um certo desapego em relação à moda, o jovem de 21 anos é parte da recente e instigante safra de beatmakers da região de Los Angeles. Mas não pense que começou na música ontem.

O simpático (pelo menos nos vídeos está sempre sorrindo) Will aprendeu cedo a tocar diversos instrumentos, e ainda na adolescência passou a produzir suas próprias músicas, primeiro com a banda [Post- Foetus], depois como Geotic e finalmente como Baths.

Desde que começou a se aventurar como produtor, Baths experimentou diversas sonoridades diferentes, do indie à ambient; mas sempre houve nessas experimentações – em maior ou menor escala – um quê do hip hop da costa oeste norte-americana, e com Cerulean, seu debut, ele distorce, derrete e embaralha este mesmo hip hop e mostra ao mundo que na música, assim como na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.

O álbum é uma encruzilhada onde uma porção de referências se encontram para trilhar um caminho comum, quase sempre guiado pelos beats de Wiesenfeld. “Apologetic shoulder blades” abre Cerulean com sua própria voz copiada e colada em várias camadas, dando à música um ar fantasmagórico, como um coro gregoriano lisérgico. Aí entram em cena as batidas tortas, recheadas de graves pesados e efeitos percusivos que às vezes parecem descolados do resto, e tem início a viagem.

Em “Lovely bloodflow”, ele canta realmente primeira vez, mas não dá pra dizer que seja exatamente um MC tradicional. Como tradições não são regra aqui, damos um desconto para seu falsete e apreciamos os detalhes da faixa, como o som de mar ao fundo ou o delicado piano que a permeia. “Maximalist”, que vem na sequência, traz de uma vez à tona o lado mais hip hop de Baths (e à cabeça lembranças do Prefuse 73), desde que se substitua as rimas por algo próximo do dream pop. Post-hip hop?

A essa altura o disco parece seguir uma fórmula. “♥” e “Animals” lhe dão uma continuidade natural, por assim dizer, até que “Rafting starlight everglades” chega e mostra que bagagem musical abre muitos caminhos, possibilitando por exemplo deixar a bateria em segundo plano e aplicar sobre ela diferentes texturas de sintetizador e um piano esporádico.

 

 

“Rain smell” e “Departure” também funcionam como quebras no frenesi de batidas do álbum. A primeira com um som de floresta – e seus pássaros, inclusive – como pano de fundo para o romântico Baths e seu piano; a segunda, que fecha Cerulean, dá uma variada no clima glitch, soando como um híbrido de Toro Y Moi e post-rock.

Aliás, classificar o disco de estreia de Baths é tarefa inglória. Post-hip hop, glitch-hop, glow-fi, chillwave, idm, experimental; pode-se usar muitos rótulos para nomeá-lo (assim como outros artistas da LA Beat Scene), mas a originalidade do produtor e suas marcas estão impressas neste trabalho complexo, intrincado, que vai da euforia urbana à tranquilidade psicodélica sem perder o rumo. Seja ele qual for.

Recomendado!


2 respostas para “Baths – Cerulean (2010)”.

  1. juliobrunetti

    Nossa…comecei a ler pensando que vc ia falar do novo album dele. Hahahaha. Tbm gostei muito do debut do Baths, mas ainda nao consegui ouvir o ultimo album. Vai rolar resenha dele?

  2. […] Baths – Cerulean (2010) por Fabio Bridges no Pequenos Clássicos Perdidos […]

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